sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Oba, faltou luz!

Quando a gente via aquele pisca-pisca adoidado no céu, em ritmo frenético e com sons estrondosos, já sabia o que estava por vir. Era batata: alguns minutos de raios e trovões e puff, a luz tratava de acabar.

Eu e meus irmãos corríamos atrás de velas e lanternas (sempre sem pilha) e nos abrigávamos na cozinha – onde o espaço, menor, nos mantinha mais próximos –, esperando nossos pais voltarem do trabalho. Com TV, aparelho de som e todas outras distrações elétricas desligadas, a gente se punha a conversar, enquanto minha mãe preparava alguma coisa pro jantar. Meu pai trazia o violão, meu irmão batucava na mesa, e o resto seguia cantando a música que primeiro surgisse à cartola. Tinha sempre aquelas em que ninguém chegava no tom certo – um desastre. Mas não desanimávamos. Junto com a música começava um show de dancinhas e de sombras esquisitas na parede. Quando a viola cansava, contávamos histórias fabulosas.

Era só olhar para o teto e, segundo meu pai, lá imaginar uma grande tela de cinema. Dela saíam ursos bravos a defender seu território, helicópteros atingidos por bazucas, mocinhas inocentes perdidas pela floresta... A criatividade atravessava a noite e, quando alguém se lembrava de checar o relógio, já tinha passado da hora de ir pra cama. Ainda no escurinho, levávamos as velas para o banheiro, para escovar os dentes, e nos deitávamos, rezando pra que, no dia seguinte, a luz acabasse de novo.

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