quinta-feira, 30 de maio de 2013

Intimidade é uma merda!


16º Post: Da série. 

...Precisamos mesmo ser tão críticos?

 Quando eu tinha quinze anos, minha mãe ficava revoltada quando me ouvia falando pelo telefone com meu novo namorado. É que, com ele, eu era um Mel, digamos, versão premium. Fofo, meigo, doce – até demais, já que, se não me falha a memória, eu o chamava de “leãozinho”, mas vou poupá-los desse tipo de detalhe. O caso é que bastava desligar o telefone para que o meu mode melação também entrasse em OFF. E, para a minha mãe e o resto da família, sobrava minha versão convencional, mesmo. Leia-se: legal se a vida estivesse legal, insuportável se estivesse de OVO VIRADO ou se a última fatia de torta tivesse desaparecido da geladeira.
 
 Mal sabia minha mãe que, anos depois, passaria a sobrar não só para ela, coitada, como também para o meu namorado. Afinal, após alguns aniversários de namoro, o pobre entrou para a lista das pessoas com quem eu tinha intimidade. E intimidade tem dessas coisas, né: a gente se sente tão à vontade que, bem, para que se preocupar em ser gentil?

 Naquela época, eu costumava almoçar na casa da minha amiga Fany. Lá, eu era visita. E, você sabe, a entidade “visita” detém todos os mimos. Mal pisava na casa dela e os pais começavam: “Aceita um refrigerante?”, “Por que não vem mais vezes?”, etc. Se eu derramasse suco na toalha, ouvia algo como: “Imagine, não se preocupe, toalha de mesa é para isso!” Agora, se a Fany derramasse o suco… Pronto. Era o suficiente para o irmão gritar: “desastrada!”. E para o pai intervir: “também, olha onde vocês colocaram a jarra!”. Comigo, nada mudava: em questão de segundos, a mãe que tinha acabado de berrar com a filha me perguntava, cheia de ternura: “Mais lasanha, querido?”

 É curioso. A garota do inglês, que mal sabe seu nome, merece sua delicadeza. Se você está de OVO VIRADO, no máximo ela recebe uma cara mais fechada, frases com menos palavras. Afinal, ela não tem nada a ver com seu mau humor. Agora, se seu namorado de anos te pega naqueles dias… Aí, ferrou. Pra ele, claro.

Bom, nada disso é novidade. Afinal, é algo tão comum: tratar bem quem a gente mal conhece, guardar nosso pior para quem nos ama. Intimidade é isso, certo? Então, quando minha mãe reclamava da diferença de tratamento que ela e meu namorado recebiam, eu nem me importava. Eu só estava fazendo o que todo mundo faz. E minha família, meus velhos amigos, meu namorado de anos – eles me amavam, não amavam? Eles não iam deixar de me amar por causa de grosserias sem importância. Depois de algum tempo, lá estávamos nós dando risadas juntos. Né?

 Pode até ser. Mas, alguns anos depois, num desses momentos em que a gente sai do piloto automático e para pra pensar, me dei conta de algumas coisas simples. Primeiro: ao contrário dos pais da Fany, os meus costumavam ser gentis comigo. E eu adorava isso. Segundo: intimidade muda mesmo as relações. Mas essa mudança pode significar mil coisas – ter sensação de segurança, ficar à vontade com o silêncio, ter liberdade para ser sincero, para fazer brincadeiras. Intimidade não precisa necessariamente passar por grosseria. Por fim: é verdade, depois da grosseria, tudo volta às boas, mas eu, pelo menos, acho a vida muito mais agradável quando predomina o clima de harmonia. Na medida do possível, claro, mas sem muito favoritismo.

Aliás, se tiver favoritismo, que ele favoreça a minha mãe, que, como ela adora lembrar, limpou meu cocô quando eu era pequeno.

2 comentários:

  1. Aline Alicemaio 30, 2013

    Amei... muito bom.

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  2. Ricardo Velosomaio 30, 2013

    Agora vamos falar sobre a intimidade da foto, a Barbie esta cagando ou mijando? Hahaha

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