Volto para casa sem saber o que fazer exatamente com o dia que está começando. Na verdade, domingo com chuva me deprime, ainda mais quando estou em dias de saudades.
Faz algum tempo que venho somando perdas queridas, amadas, insubstituíveis. No princípio, pensei comigo mesmo: é o meu período de subtração, não consigo somar nada, só aquela sensação desesperadora de impotência diante do inevitável: a morte.
De repente, fiquei-me sentindo pobre. Não sei lidar muito bem com esse sentimento de pobreza de amigos que se foram ou que estão condenados a irem em breve. Há mortes demais de gente que, ao meu ver, ainda deveria viver e acrescentar muito.
Quando minha melhor amiga contraiu de forma muito triste o vírus HIV – o marido, em uma de suas muitas escapadas, contraiu a doença, e minha doce amiga foi contaminada sem nunca se quer haver conhecido outro homem – fiquei absolutamente sem saber o que fazer. Olhando o resultado do exame, o choque foi tão grande que fiquei atordoado durante dias, não conseguindo entender como isso podia haver acontecido com ela.
A desgraça nunca vem só! E foi o ano das grandes perdas. Se não fosse a minha fé em Deus, acho que teria morrido de dor. Foi um versículo bíblico que li, de dentro da névoa do sofrimento – que me impedia, até mesmo, de pensar direito -, que calou a revolta do meu coração. Deus falando a Jó: “Onde estavas quando criei o mundo, quem sois vós para questionar a Deus.”
Minha dor não diminuiu, mas a revolta melhorou. A carne sofria, mas, de alguma forma, o espírito aceitou o que estava além da minha compreensão humana.
Desisti de contabilizar as perdas queridas. No final, a morte acabava sendo quase um alívio, tanto eram os sofrimentos.
Fico esperando que as feridas cicatrizem, mas é tempo de sangrar. Deus sabe o que faz! Deve haver algum ensinamento para mim em todo esse manancial de dor. Quando conseguir cicatrizar as feridas, vou ficar mais forte e, quem sabe?, mais sábio, antevendo e valorizando os dias de felicidade.
Mas, hoje, somo as saudades… são tantas que fico sem ar. Literalmente, sinto o coração parar por segundos. É verdade! Ele pára! Depois, a boca se abre e o ar entra aos poucos, não indo até ao fundo dos pulmões, e eu fico com a sensação de não haver respirado todo o ar de que preciso.
Fiquei muito tempo de luto secreto. É espantoso quanta tristeza a gente pode esconder dos outros e manter o rosto sereno quando se chora por dentro. Lágrimas grossas, pesadas da tristeza, que, a gente sabe, ainda estão por vir a qualquer momento. Meu Deus! Eu não quero mais perder nenhum sorriso amigo. Não quero ter que sentir saudades num dia em que fico triste e me faltam forças para buscar a alegria em algum lugar onde ela, momentaneamente, haja se escondido de mim.
Quero de volta minhas boas recordações. Minha mãe inteligente e linda; suas belas e longas mãos de artista acariciando-me; seu sorriso inconfundível, seu colo perfumado e macio, cabelos negros e finos…
Quero meu pai forte e determinado, sentir segurança. Queria voltar só por um dia a ser filho. Não ter que ser adulto o tempo todo.
Quero viver de novo minha emoção cotidiana de receber a amizade, o calor e o conforto do desabafo no ombro amigo. “Minha Evinha, nunca pensei que nos iríamos separar tão cedo. Havíamos programado envelhecer juntos, lembra? Preciso do seu afago, seu afeto, sua gargalhada solta e livre, sua serenidade, sua sensatez, sua capacidade de fazer da vida algo brilhante e limpo”.
Mas hoje é dia de saudade…
Assim, viajo no país dela, onde moram os amados que já partiram. Vou fundo nas recordações. E, de alguma forma, querê-los vivos trás de volta, junto com a dor, toda a beleza dos momentos compartilhados.
Amanhece. É outro dia. Vou trabalhar. Escondo a dor embaixo da cama, embaixo do tapete da sala, em um canto qualquer secreto dentro de um cofre que todos temos dentro da nossa cabeça. Fecho rapidamente a porta em cima das recordações. Esmago e empurro tudo para dentro. A hora das lembranças está encerrada, até uma próxima explosão de saudades. Sei que vai passar, vai parar de doer, porque a vida é assim mesmo para quem teve o privilégio de amar e ser amado.
Feliz 2012!!
Nossa que triste!
ResponderExcluirQue cretino! Ele já morreu?
ResponderExcluirQue triste hein?
ResponderExcluirSeus pais são mortos?
ResponderExcluirVocê mesmo escrevendo sobre tristezas e saudades consegue nos deixar anestesiados com suas palavras.
ResponderExcluirQue história dramática dessa sua amiga hein!
ResponderExcluirAdorei!
ResponderExcluirMuito bom o texto, triste mais bom!
ResponderExcluirTriste hein!
ResponderExcluirEntão, achei meio deprimente seus ultimos textos.
ResponderExcluirAdorei o texto.
ResponderExcluirAdoro seu blog, acho muito bom.
ResponderExcluirTriste!
ResponderExcluirMuito bom.
ResponderExcluirAmei o texto, achei meio triste.
ResponderExcluirNossa que triste.
ResponderExcluirMuito bom.
ResponderExcluirMuito triste a historia, mas bela.
ResponderExcluirAmei o texto, até chorei.
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