sexta-feira, 17 de junho de 2011

Eduardo e Mônica


Quem um dia irá dizer 
Que existe razão 
Nas coisas feitas pelo coração? 
E que irá dizer 
Que não existe razão?

Eduardo abriu os olhos mas não quis se levantar:
Ficou deitado e viu que horas eram 
Enquanto Mônica tomava um conhaque,
Noutro canto da cidade 
Como eles disseram.

Eduardo e Mônica um dia se encontraram sem querer 
E conversaram muito mesmo pra tentar se conhecer.
Foi um carinha do cursinho do Eduardo que disse: 
- Tem uma festa legal e a gente quer se divertir.
Festa estranha, com gente esquisita:
- Eu não estou legal. Não agüento mais birita.
E a Mônica riu e quis saber um pouco mais 
Sobre o boyzinho que tentava impressionar 
E o Eduardo, meio tonto, só pensava em ir p'rá casa: 
- É quase duas eu vou me ferrar.

Eduardo e Mônica trocaram telefone
Depois telefonaram e decidiram se encontrar.
O Eduardo sugeriu uma lanchonete 
Mas a Mônica queria ver o filme do Godard.
Se encontraram então no parque da cidade
A Mônica de moto e o Eduardo de camelo
O Eduardo achou estranho e melhor não comentar 
Mas a menina tinha tinta no cabelo.

Eduardo e Mônica eram nada parecidos -
Ela era de Leão e ele tinha dezesseis.
Ela fazia Medicina e falava alemão 
E ele ainda nas aulinhas de inglês.

Ela gostava do Bandeira e do Bauhaus,
De Van Gogh e dos Mutantes,
De Caetano e de Rimbaud
E o Eduardo gostava de novela 
E jogava futebol de botão com seu avô.

Ela falava coisas sobre o Planalto Central,
Também magia e meditação.
E o Eduardo ainda estava 
No esquema "escola-cinema-clube-televisão".

E, mesmo com tudo diferente,
Veio mesmo, de repente,
Uma vontade de se ver 
E os dois se encontravam todo dia 
E a vontade crescia,
Como tinha de ser.

Eduardo e Mônica fizeram natação, fotografia, 
Teatro, artesanato e foram viajar.
A Mônica explicava p'ro Eduardo 
Coisas sobre o céu, a terra, a água e o ar:
Ele aprendeu a beber, deixou o cabelo crescer 
E decidiu trabalhar;
E ela se formou no mesmo mês 
Em que ele passou no vestibular 
E os dois comemoraram juntos 
E também brigaram juntos, muitas vezes depois 
E todo mundo diz que ele completa ela e vice-versa,
Que nem feijão com arroz.

Construíram uma casa uns dois anos atrás,
Mais ou menos quando os gêmeos vieram -
Batalharam grana e seguraram legal 
A barra mais pesada que tiveram.

Eduardo e Mônica voltaram p'rá Brasília 
E a nossa amizade dá saudade no verão.
Só que nessas férias não vão viajar
Porque o filhinho do Eduardo
Tá de recuperação.

E quem um dia irá dizer 
Que existe razão 
Nas coisas feitas pelo coração? 
E quem irá dizer 
Que não existe razão?

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Serão rejeitados comentários que desrespeitem o dono do Blog, apresentem linguagem ou material obsceno ou ofensivo, sejam de origem duvidosa, tenham finalidade comercial ou não se enquadrem no contexto do post.