domingo, 21 de setembro de 2008

Cinema Afiado


Há quem considere de menos importância conferir bilheterias do cinema brasileiro. Que cinema é arte, e não mercado. Sou do outro time. Confiro semanalmente as bilheterias com o mesmo ardor com que outros conferem o resultado da Loto. Estou sempre em busca de um filme nacional que supere ou pelo menos repita o bom desempenho de "Meu nome não é Johnny", nove meses atrás. Arte com público é muito melhor, não é, não?
Tenho sido frustrado nas minhas consultas. A cada semana, as expectativas que cercavam os lançamentos deste ano fracassam. No entanto, boto fé nesse "Os Desafinados", de Walter Lima Jr., que estreou há vinte dias. O filme parece ter um perfil que agrada a grandes platéias. Para começar, é um filme brasileiro que não tem cenas ambientadas em favelas e não se ouve um tiro sequer. Não é um alívio? Só não digo que não tem violência porque, num episódio que remetem ao desaparecimento do pianista Tenório Jr. em Buenos Aires, há uma seqüência sobre o abuso da ditadura argentina. No mais, "Os Desafinados" fala de amor, solidariedade, amizade, companheirismo, saudades. Suave como uma canção de Newton Mendonça.
Além disso, o filme tem um elenco arrebatador. Ninguém precisa mais dizer isso, mas Claudia Abreu é mesmo a melhor atriz de sua geração. Sabe atuar para televisão, quando faz televisão. Sabe atuar para teatro, quando faz teatro. E sabe atuar para cinema, quando faz cinema. Parece óbvio, mas não é. Ela ilumina a tela quando está no filme. Selton Mello, mesmo sem ser o protagonista, rouba todas as cenas em que aparece. Rodrigo Santoro também não precisa provar mais nada, mas é admiirável sua entrega ao papel do pianista Joaquim, o condutor da trama . Os três atores estão a frente, mas é impossível não aplaudir também os desempenhos de Ângelo Paes Leme, André Moraes e Jair de Oliveira. Se isso não é elenco de blockbuster, queimo minha carterinha de sócio do Cineclube do Leme.
"Os Desafinados" trata de um assunto, a geração que começou a compor e a filmar na primeira metade da década de 60, pouco tratado no cinema de ficção brasileiro. O período costuma aparecer nas telas com a sisudez de um documentário ou com a reverência de uma cinebiografia autorizada. Em "Os Desafinados" apesar das incontáveis citações a fatos e personagens que realmente existiram, é só ficção. Uma ficção amorosa. Uma ficção sobre o passado da geração do diretor. E acaba revelando mais sobre o período em que todas as peças eram documentais.
Não é difícil encontrar defeitos no filme. É longo demais, por exemplo (dura duas horas e 15 minutos), e , talvez, Walter Lima não tenha criado inteiramente o clima envolvente que seu roteiro pedia. Mas isso são ranzinzices do bloguista. É tudo tão delicado, tão carinhoso, que não dá para não aderir. E o final - que não conto aqui para não estragar uma bela surpresa da trama - é redentor. Saí do cinema cantando para celebrar uma geração que pode ter tido muitos erros, mas nunca desafinou na vida.

Um comentário:

  1. ADOREI DE FATO ESSE FILME, MEU NOME NÃO É JONNHY TBM É FODA ADOREI TBM!!!

    BJS E TA DE PARABÉNS TEU BLOG É MUITO LEGAL.

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