quarta-feira, 23 de abril de 2008

Teste Vocacional!

Dentre as perguntas que dariam o resultado final do meu teste, o que mais me chamou atenção foi ter que fazer minha própria biografia. De início, parecia ser a coisa mais fácil, besta e rápida do mundo. Falar sobre tudo o que vivi até agora, sem limite de linhas, parágrafos, sem me preocupar com a ordem dos fatos. Comentaria algo que tivesse me marcado e estaria feito. Só que - detalhe - eu nunca tive um momento marcante. Não fiz nada de produtivo. Não participei de uma cena digna de contar para os netos. Nada.Meus avôs partiram para o andar de cima antes mesmo de eu nascer. Me senti normal ao entregar a chupeta para o Papai Noel em troca de uma bicicleta, nunca tive problemas em me relacionar com os meus pais e, quando eles se separaram, eu era tão pequeno que mal entendia tal situação. Para mim, ir a casa do meu herói nos finais de semana seria tão bom como tê-lo morando comigo.Quando minha melhor amiga se mudou para Porto Alegre, não chorei. Tenho saudades dela ao lembrar das nossas brincadeiras de criança, mas com o tempo, os novos amigos tomaram o seu espaço no meu dia-a-dia. Nunca tive inimigo.Não sou repetente, se fiquei uma vez em recuperação foi muito. Nunca tive rixa com professor, tampouco apanhei na hora da saída. Quando fiz quinze anos, dispensei o churrasco na piscina com os amigos. De filhos, só os bonecos dos power rangers, esses que eu já repassei para as crianças necessitadas. E agora que tenho a chance de, pela primeira vez, correr atrás de um grande objetivo, apelo para um teste vocacional, uma vez que já não sei para que sirvo.Sabe, talvez essa coisa de fato marcante não seja para mim. Porque comprar um creme que deixe o meu cabelo bonito, lamentar a morte do gato de estimação e vibrar por ter um texto publicado em uma revista não se compara ao nascimento do próprio filho, o falecimento de um parente ou um emprego de redator. Mas, olhando as coisas por um ângulo mais otimista, arrisco a dizer que os momentos marcantes são tão proporcionais a nossa experiência de vida.Com dessoito anos, uma junção de fatores bons, medianos e ruins fez dos meus dias inesquecíveis. Daqui vinte anos, talvez eu destaque um momento que realmente tenha me tornado uma pessoa diferente. Como, sei lá, ter plantado uma árvore, construído uma casinha confortável e publicado um livro. Mas ainda é cedo para dizer. Tenho muito que viver para, depois, contar aos meus futuros bisnetos.
Eu disse bisnetos. Porque os netos saberão de cor e salteado sobre as minhas aventuras.
(Já pensou se eu coloco este texto no teste?).

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