- Nota um
Meu plano não está dando certo. Lembro que disse, lá no comecinho do ano, que ia aproveitar mais meus longos dias. E o que eu tenho feito? Estudado, estudado, estudado, estudado.
Engraçado que eu falei até certo tempo que não iria me auto-cobrar por nada. E hoje me cobro até por não vir aqui.
Ai, como eu queria ter o poder de fazer mil coisas ao mesmo tempo! Do tipo aproveitar cada segundo da segunda-feira, escrever algo que não fosse redações para a escola, visitar lugares novos e garantir boas notas em química e física. Mas sempre ouvi aquele negócio de que a vida é feita de escolhas. Acho que tenho que optar entre viver o hoje ou colher bons frutos no amanhã.
E se não existir amanhã, como fica?
- Nota dois
Abriu a gaveta e achou, no meio de tanta bagunça, um pacotinho com um chocolate. A embalagem era tão botinitinha, tão delicadinha, que mais parecia um pacote de chá. Quando a rasgou, conferiu que o doce lembrava uma moeda, de tão pequeno que era. Pensou que, com ele, poderia comprar qualquer coisa que quisesse: beijo, abraço, carinho e afeto. Pensou que, se lhe desse um nome ou escrevesse em seu pacote algum versinho, alguém compraria. Pensou no dia em que recebeu aquela gostosura. Comeu, fechou a gaveta e foi embora. Sentiu saudade de quem as comprou pela primeira vez. Sentiu falta do amor, que antes podia ter de graça. Sem pagar. Sem fazer mal à ninguém.
(não é autobiográfico)
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