Outro dia assisti a um filme no qual nunca tinha ouvido falar – talvez porque nem chegou a passar nos cinemas. Chama-se “Vida de casado”, um drama enxuto, com apenas 90 minutos de duração e jeito de clássico. Gostei bastante. Um homem casado há muitos anos se apaixona por uma bela garota e com ela quer viver, mas não sabe como terminar seu casamento sem que isso humilhe sua venerável esposa, então decide que é melhor mata-lá para que ela não sofra: não é uma solução amorosa?
Não tem o brilhantismo de Woody Allen, mas o roteiro tem certo parentesco com “Crimes e pecados”. Se fosse possível resumir o filme numa única frase, seria “Ninguém sabe o que esta se passando pela cabeça da pessoa que esta dormindo ao nosso lado!”.
Será que nós sabemos, de verdade, o que acontece à nossa volta? Achamos que sabemos.
Achamos quais são as ambições de nossos filhos, o que eles planejam para suas vidas, esquecendo que a complexidade humana também é atributo dos que nasceram do nosso ventre, e que por mais íntimo e aberto que eles sejam conosco, jamais teremos noção exata de seus desejos mais secretos.
Achamos que sabemos o que o amor da nossa vida sente por nós, baseados em suas declarações afetuosas, seus olhares ternos, suas gentilezas intermináveis e sua permanência, mas isso tudo mesmo? Nem sempre temos conhecimento das carências mais profundas daqueles que vive sob o nosso teto, e não porque ele esteja sonegando alguns sentimentos, mas porque nem ele consegue explicar para si mesmo o que lhe dói e o que lhe falta.
Achamos que sabemos quais são as melhores escolhas para nossa vida, e é verdade que alguma intuição temos mesmo, mas certeza nenhuma. Achamos que sabemos como será envelhecer, como será perder a rigidez e a saúde do corpo, achamos que sabemos como se deve enfrentar tudo isso, mas que susto levaremos quando chegar a hora.
Achamos que sabemos o que pensam as pessoas que conversam conosco e que até nos fazem confidencia, aceitamos cada palavra dita e nos sentimos honrados pelas informações recebidas, sem levar em conta que muito do que está sendo dito pode ser da boca pra fora, uma encenação que pretende juntamente mascarar a verdade, aquele verdade que só sobrevive no silencio de cada um.
Achamos que sabemos decodificar sinais, perceber humores, adivinhar pensamentos, e às vezes acertamos, mas erramos tanto. Achamos que sabemos o que as pessoas pensam de nós. Achamos que sabemos amar, achamos que sabemos conviver e achamos que sabemos quem de fato somos, até que somos pegos de surpresa por nossas próprias reações.
Achar é o mais longe que podemos ir nesse universo repleto de segredos, sussurros, incompreensões, traumas, sombras, urgências, saudades, desordens emocionais, sentimentos velados, todas essas abstrações que não podemos tocar, pegar em compreender com exatidão. Mas nos conforta achar que sabemos.
Nossa que lindo... não via esse filme ainda! Espere eu chegar em casa e veras, vou alugar e ve-lo.
ResponderExcluirNossa que louco, o marido quer matar a mulher pra não sofrer com o divorcio. Realmente não sabemos com quem dormimos mesmo.
ResponderExcluirAssisti esse filme, adorei também!
ResponderExcluirMuito boa a crônica e o teu poder de síntese é esplêndido. Ganhou uma fã.
ResponderExcluirMuito bom o texto, vou assistir o filme pra pode comentar melhor.
ResponderExcluirAmei o texto, realmente não fazemos conta de quem dorme ao nosso lado.
ResponderExcluirRealmente achamos que sabemos. Disse tudo...
ResponderExcluirAmei o texto, muito legal.
ResponderExcluirEu assisti esse filme ontem, num canal fechado. Adorei e realmente é muito bom.
ResponderExcluirMuito bom o texto, adorei. Realmente é verdade, não podemos saber quem está no nosso lado.
ResponderExcluirMuito interessante.
ResponderExcluirDigo e repito, muito bom esse texto. Adorei!
ResponderExcluirNossa sufocante hein. Deixo-me com uma pulga atras da orelha.
ResponderExcluirAdorei o texto, totalmente convencional.
ResponderExcluirCurti muito teu blog!
ResponderExcluirAdorei o texto, muito bom.
ResponderExcluirMuito legal esse filme.
ResponderExcluirSempre assisto esse filme no telecine, amo muito a história.
ResponderExcluirSempre entro no teu blog e encontro coisas interessantes. Porque vc não coloca aqui no lado uns joguinhos? Fica a dica.
ResponderExcluirNossa totalmente real.
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