quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Mato, logo existo.

Não é um bom assunto para post de blog, reconheço. Mas estamos sempre tão ocupados nos dias da semana que não custa reservar dez minutinhos do dia de folga para refletir um pouco sobre que espécie de adultos está sendo formada aqui e no mundo. O sul-coreano que no mês de abril matou 32 pessoas dentro de uma universidade americana é um exemplo – a essa altura, já antigo, mas serve. Era um doente, e qual a doença dele? Solidão, depressão. Não se pode chamar de caso raro.

Messes depois da tragédia, entrei numa sala de bate-papo na Internet para ler uns comentários sobre o episódio. Até então, não estava tão perplexo – é um crime recorrente nos Estados Unidos. Mas ao me deparar com a reação (um pouco tarde eu sei) de alguns brasileiros da mesma faixa etária do assassino, aí sim, estarreci. Nunca vi um conjunto de idéias tão preconceituosas, agressivas e mal escritas. Era o festival da ignorância. Uma amostra da miséria cultural, intelectual e afetiva que caracteriza os novos tempos. Ninguém discutia com civilidade, os comentários eram belicosos e ferozes e, quando discordavam uns dos outros, aí é que a baixaria rolava solta. Pensei: eles estão protegidos pelo virtualismo, mas se estivessem frente a frente e com uma arma ao alcance da mão, quem garante que não teriam seu dia de Cho Seung-Hui?

Esses garotos e garotas têm a rebeldia natural da idade, mas é um rebeldia sem argumento, vinda do desespero. Eles cresceram assistindo a uma quantidade exagerada de violência na TV e no cinema, idolatram músicos que cantam coisas como:”eu escrevo minhas próprias leis com a morte”, têm pouco contato com o pai e a mãe, mantêm amizades de faz-de-conta e são soterrados por uma avalanche de informações que mal conseguem filtrar. Tudo isso numa sociedade cada vez mais competitiva, na qual a ordem é aparecer a qualquer custo. A felicidade há muito deixou de ser concentrar na trinca amor, saúde e dinheiro: agora é popularidade, sexo e muito, muito, muito, muito dinheiro. Quem tem uma vida modesta se frustra: conclui que é uma pessoa que não existe, que não conta, que não vale. E resolve dar o seu recado na marra.

Impossível esse relato não soar dramático, mas irreal não é. A vida mudou. E temos alguma responsabilidade nisso, não somos apenas vítimas, mas cúmplices. Está mais do que na hora de ficarmos mais perto de nossos filhos, sobrinhos e afilhados. De oferecer a eles livros e musica boa, dar muito carinho e elogio, ficar de olho nos lugares aonde eles vão e em com quem saem – um pouco de controle não faz mal a ninguém. É recomendável também tirar sarro dessas revistas que vivem de fofoca, ridicularizar a fixação pela estética, mostrar a eles que os super-heróis de verdade costumam ser mais discretos.Porem, discrição é uma coisa, fuga é outra. É preciso chamar essa garotada para um papo quando estiver silenciosa demais, ajudá-la a compreender essa loucura aí fora (que nem nós compreendemos direito), levá-la para viajar quando der, colocá-la em contato com hábitos mais simples e escutá-la muito, não importa sobre que assunto.

É guerra: a agressividade e a miséria existencial que caracterizam nossa época precisam ser enfrentadas não só no prozac, mas com cultura e afeto. A grande maioria dos adolescentes que aí estão não conseguirá ganhar fortunas, não vai virar artista nem doutor, não vai se casar com homens com barriga de tanquinho nem com mulheres que autografam a “playboy”: eles vão ter uma vida normal. E se o normal seguir não servindo para eles, pobre de nós todos.

17 comentários:

  1. Realmente nós os jovens estamos sendo bombardeados por informações do tipo assassina. É a realidade mundial!!!

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  2. Texto muito bom... e o q houve com o sul-coreano? Esse tipo de rebeldia sem causa é muito comum nos EUA, ja nem nos assusta mais.

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  3. Minha mãe fala que eu sou uma psicopata desvairada... Mas acho que ela tem que ler esse texto!
    Bjins... te amo!

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  4. Gente que coisa horrivel!! Eu nem sabia disso... agora fiquei horrorisada com os comentarios que vcfalou eram de que tipo? Deveriam ser bem maldosso, a ponto de vc disser que se eles etivessem frente a frente com uma arma seriam o Cho Seung-Hui.

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  5. Méldelsssss, eu com certeza vou me casar cm um cara normal. Até porque barriga de tanquinho é muito assediados nas ruas e como vc postou no post passado é um cara galinha!

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  6. Texto muito bom... mas eu pretendo ficar famossa sim... e me encaixo na lista: popularidade, sexo e muito, muito, muito dinheiro! Afinal quem não quer ter muito dinheiro!?

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  7. Cezar Lobatosetembro 17, 2009

    Loucos, são todos uns bandos de loucos...
    os jovens de hj estão mas preocupados com a parencia, ficam horas numa academia e se embelezam para ter um futuro promissor.
    mas a beleza inferior acaba escondendo a beleza interior que muitas das vezes se camufla e fica apagada.

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  8. Mel vc tem previssão futuristas... Pq psotou isso hj as nove e meis da manhã e na Alemanha estava acontecendo algo parecido... Um joven que era ex aluno da escola tecnica de Albertville, matou 16 pessoas sendo 14 alunos e dois professores!

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  9. Eu vi uma materia hj sobre isso tbm.. só que foi na aSlemanha, um louco entrou na escola e matou 16 pessoas.

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  10. Realomente acho que as pessoas principalmente os jovens de hoje estão pensando muito em eleza e dinheiro.

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  11. é uma idiotice esses tipos de pessoas que fazem isso, acho muito cruel... tirar a vida de outras assim por nada. Como vc disse nem se pode chamar essas pessoas de doentes, problematicos.

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  12. Realmente é muto estranho esse tipo de reação... sair matando os outros é meio impensável.

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  13. Realmente é muito pensavél... e de pensar bastante nesses assuntos!!!!!!!

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  14. Giselle Lustozasetembro 19, 2009

    Texto muito bom... legal saber que vc se preocupa com os seres humanos que estão sendo formados! Gostei disso...

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  15. Eu soube desse acontecimento asm nem dei importancia a tão tamanho fato, esta semana eu tbm fiquei apavorada com o jovem alemão que matou 16 na escola!

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  16. Ótimo texto!!!!!! Realmente não sabemos que tipo de pessoas estamos criando, gostei de vc ter enfatizado isso!

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  17. Li esse texto e me lembrei de um incidente que houve quando eu morava em New Jersey, um garoto chegou no colégio com uma arma e disse que iria matar todo mundo, teve gente que pulou das janelas foi uma correria danada. no final a arma era de brinquedo e um monte de pessoas se feriram.

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