segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Eu me mordo de ciúme. "resposta á Nádia"

Era um barco relativamente pequeno. Seu bom projeto e qualidade fizeram com que, aos poucos, ganhasse a confiança do seu proprietário. Durante anos, atravessou fortes chuvas e tempestades. Até o dia em que, inesperadamente, apresentou um problema em alto mar, com relativo risco para a tripulação. O incidente foi superado, continua navegando, mas os passeios perderam a segurança e a placidez de antes.
Difícil consolar a Nádia. Sua tristeza é profunda, seu universo caiu, perdeu a estabilidade. Durante anos, navegou numa relação quase perfeita, sem conflitos, nem terceiros. Até que Roberto entrou em crise e acabou confessando sua relação com um colega de trabalho. Nádia suportaria a crise existencial, mas quando esta ganhou forma de homem, acabou numa catástrofe que não lhe dá sossego, e sua vida virou um inferno.
Tudo passou, o incidente foi superado, estão juntos novamente. Continuam navegando, porém, agora Nádia concretizou um rival e por isso teme pelo seu futuro. Não enfrentar um perigo objetivo, sente medo. A diferença que existe entre um perigo real e um medo imaginário é semelhante ao que distingue “traição” de “ciúmes”. A traição é um trauma real, os ciúmes são medos imaginários. A traição é uma rocha dura que, quando surpreende o barco em movimento, pode rachar seu casco e afundá-lo. Os ciúmes são pedras moles, que aterrorizam anunciando futuros naufrágios e traições. Pode parecer estranho, mas os ciúmes, por serem mais freqüentes e difundidos, são mais perigosos e afundam mais barcos do que as próprias traições. A relação de Roberto e Nádia sobreviveu a uma traição real, mas poderá não resistir a essa nova ameaça, naufragando por ciúmes.
Roberto passou por uma crise, se envolveu com outra pessoa, se arrependeu e conseguiu retomar sua relação, o que mostra que, em circunstâncias reais, é possível reparar um equívoco e o remédio para resolvê-lo é reconhecer o erro e a intensidade dos sentimentos que surgiram durante a separação, já que Roberto não suportou perdê-la. Os ciúmes, por serem irreais, não têm remédio, não há como provar a inocência por um crime que não foi cometido. Esse é o perigo atual da Nádia, perder seu amado por fantasias que a colocaram numa posição insegura e perdedora. Para Roberto, como para qualquer homem, é difícil respeitar e amar uma mulher ansiosa que se declara incapaz de ser amada. Cada vez que Nádia o controla ou vigia, está mostrando que não se sente à altura do seu amor, ou melhor, ao contrário, que impotente e se sente abaixo de seus colegas de trabalho. Os ciúmes são uma declaração de falência diante do seu companheiro, que inevitavelmente vai duvidar se está com a mulher certa.
Barcos e amores não estão livres de naufrágios, mas os marinheiros experientes dizem que, quando os barcos falham e são bem reparados, acabam ficando mais seguros do que se nunca tivessem apresentado defeitos. Mostraram seus pontos fracos que, se forem corretamente reforçados, oferecem uma navegação mais plena e segura. Para superar as dúvidas e recuperar a confiança de uma embarcação, a melhor coisa é navegá-la bastante.

Um comentário:

  1. Jonas Ribeirooutubro 15, 2009

    Não sabia que teu blog era também consultório sentimental! rsrsrsr agora vou postar minhas frustrações aqui também.

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